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Palavras Soltas...

As palavras podem significar muito, ou podem significar nada! Podem ser boas ou más... mas nunca deixarão de ser proferidas!

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20
Fev14

A polémica dos Tordos

Como podem ver no post em baixo, o esritor João Tordo escreveu uma carta dirigida ao pai Fernando Tordo, que se viu obrigado a emigrar para o Brasil. Essa carta tornou-se viral na internet e houve logo quem tratasse de lhe dar uma resposta.

Um dos textos que vi é de uma senhora chamada Suse de Sousa que escreve o seguinte:

 

«Recado ao João Tordo.
De filha que sou para filho que és.
Quando eu nasci o meu pai estava em Rio Maior. Quando fui para a primária o meu pai estava na Suiça. Quando eu estava no ciclo o meu pai estava em Viana do Castelo. Quando eu estava no secundário o meu pai estava no Algarve. Quando eu estava na faculdade o meu pai estava na Alemanha, França, Espanha, Roménia...entendes isto?
João, tenho 33 anos e cresci assim. A ver o meu pai sazonalmente. Não, o meu pai não é músico nem propriedade intelectual deste belo país. O meu pai é serralheiro. Sabes quando vens ao Porto e atravessas a ponte D. Luis de metro? Foi ele. Sabes as refinarias em Matosinhos ou Sines que te permitem teres combustível para abasteceres o teu carro? Foi ele. Sabes os barcos que durante anos saíram dos estaleiros de Viana? Foi ele. Se a “obra” do meu pai é tão bonita quanto a “Tourada” do teu isso não sei dizer. Sei-te dizer que te entendo. Mas também te sei dizer que as costas de Portugal não podem ser assim tão largas. O teu pai corajoso foi tentar uma vida melhor no Brasil. O meu já está batido nisso. Não vejo ninguém indignado pelos milhares que como o teu pai e o meu são obrigados a sair deste país que nada oferece. O teu pai ainda tem 2 reformas. O meu ainda trabalha no duro e desconta. Sabes deixa-os ir. É difícil mas sobrevive-se. E o choradinho nunca levou ninguém a lado algum.
PS- O meu pai está neste momento no Brasil. Se o teu pai quiser trabalhar que lhe ligue. Pode ser que se arranje qualquer coisa.
»

 

 

Esta resposta faz-me lembrar as birras entre miúdos, em que se "atacam" com frases do género: "o meu pai é melhor que o teu, o meu pai faz isto e aquilo e o teu pai não!".

Nem o Fernando Tordo é mais que o pai desta Suse, nem o pai dela  é mais que o Fernando Tordo. Simplesmente, os dois, por força das circunstâncias viram-se obrigados a emigrar. Como tantos outros fizeram e continuam a fazer diariamente, porque todos os dias há portugueses a partir em busca de um futuro melhor. O facto do pai desta senhora já estar «batido nisso» da emigração,  não o faz melhor pessoa, que o pai de qualquer um de nós.

Diz a Suse no seu texto, que «o choradinho nunca levou ninguém a lado algum». E eu pergunto, mas quem é ela para dizer o que quer que seja relativamente aos sentimentos de João Tordo? Quem somos nós para julgarmos a tristeza dos outros?  João Tordo limitou-se a fazer uma carta  a dizer o que lhe ia na alma, triste por ter de ver o pai a emigrar com 65 anos e magoado «pelos palavrões duros» que teve de ouvir a seu respeito.  Será que a Suse gostaria que falassem mal do seu pai? Concerteza que  não, até porque foi para as redes sociais "vangloriá-lo" com esta resposta que deu .

 

Acho, que com esta carta, João Tordo, para além de desabafar o que lhe ia na alma, mostrou também a sua indignação com a crise que o país vive, mas não só com a crise ecnómica:

 

«Os nossos governantes têm-se preparado para anunciar, contentíssimos, que a crise acabou, esquecendo-se de dizer tudo o que acabou com ela. A primeira coisa foi a cultura, que é o património de um país. A segunda foi a felicidade, que está ausente dos rostos de quem anda na rua todos os dias. A terceira foi a esperança. E a quarta foi o meu pai, e outros como ele, que se recusam a ser governados por gente que fez tudo para dar cabo deste país - do país que ele, e milhões de pessoas como ele, cheias de defeitos, quiseram construir: um país melhor para os filhos e para os netos. Fracassaram nesse propósito; enganaram-se ao pensarem que podíamos mudar. Não queremos mudar. Queremos esta miséria, admitimo-la, deixamos passar. E alguns de nós até aí estão para insultar, do conforto dos seus sofás, quem, por não ter trabalho aqui - e precisar de trabalhar para, aos 65 anos, não se transformar num fantasma ou num pedinte - pegou nas malas e numa guitarra e se foi embora.»

 

 É triste vivermos numa sociedade em que além da crise económica, também a sociedade está em crise de valores, tenho a sensação que as pessoas estão sempre à espera de um pretexto, para nas redes socias desatarem a achincalhar alguém, então se esse alguém for  conhecido, é perfeito! As pessoas querem  arranjar bodes expiatórios onde não os há e onde os há tapam os olhos.

É que andamos tantos anos a ser desgovernados, a ser roubados e a quem nos roubou, ninguém se vira. Atacamos aqueles que como nós estão mal, e fingimos não ver os que vivem à grande e à francesa à nossa custa com reformas milionárias.

 

Somos assim:

 

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